sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Resumo: O Trabalho em Equipe Pedagógica: Resistências e Mecanismos Philippe Perrenoud (elaborado por Profª Ms. Mírian F. Rodrigues)

CAP. 5 O Trabalho em Equipe Pedagógica: Resistências e Mecanismos
Philippe Perrenoud

- Que é uma equipe pedagógica? A partir do momento em que alguns professores associam-se para compartilhar tarefas ou recursos? Ou esse status dever ser reservado a um grupo de profissionais que coordenam suas práticas, colaboram de forma intensa na ação pedagógica cotidiana?
-Primeiro define: pseudo-equipe, equipe lato sensu, equipe stricto sensu.
-Equipe: Grupo de pessoas que agem juntas ou grupo de pessoas que colaboram em um mesmo trabalho.
-Nas equipes esportivas, orquestras amadoras, grupos de turistas e os clubes em geral são constituídos sobre uma base voluntária, no trabalho assalariado dois extremos: em um extremo equipes constituídas por um poder hierárquico; no outro extremo equipes constituídas por escolha, não são obrigados a trabalhar juntos.
-Muitas vezes as escolhas são semi-obrigatórias, são levadas em conta as exigências do trabalho, as competências, os horários, os desejos cada um, algumas pressões ou incitações da autoridade.
E na Escola ? Os estabelecimentos de ensino não são fábricas. Uma equipe pedagógica sempre é formada por professores que adotaram voluntariamente esse modo de trabalho e que escolheram reciprocamente? Não, porque, em certos sistemas educativos, a administração escolar considera equipe qualquer relação entre as pessoas, o corpo docente ou grupo de professores que lecionam na mesma classe. (artefatos administrativos que mais desestimulam do que estimulam a colaboração.
- Absurdo uma administração instituir um trabalho em equipe sem direcionar atitudes e comportamentos. Não é a decisão inicial que cria problema mas o irrealismo ( esperar impor por decreto uma cooperação, um diálogo.

Três situações-tipo, segundo a natureza das pressões
- A equipe imposta: supõe-se que os professores trabalhem juntos, mas a equipe só existe no papel, neste caso as resistências não se manifestam;
- A equipe autorizada/estimulada: Os professores não são obrigados a trabalhar juntos, são convidados e estimulados; considera uma forma moderna e desejável de colaboração profissional;
-A equipe proibida/desestimulada: Não se espera que os professores trabalhem em equipe, se estiverem interessados irão deparar com milhares de complicações administrativas na etapa de atribuição de cargos, de horários, da carga d ensino, de lugares de reunião e serão desestimuladas abertamente pela direção ou pelo restante do corpo docente.
Essas situações produzirão dinâmicas diferentes: a primeira e a última induzem a uma luta contra o sistema e embaralham as cartas.
No primeiro caso não se resiste inicialmente – ou apenas - ao trabalho em equipe, mas a um modo autoritário de gestão das relações entre professores. No terceiro caso, as resistências pessoais podem ser provisoriamente colocadas entre parênteses, trata-se de convencer a administração a reconhecer a equipe para facilitar sua tarefa.
Há pontos comuns nas três situações-tipo; a análise foi concentrada na segunda, a da equipe autorizada/estimulada sem ser impostar nem por regras gerais nem por decisão do diretor da escola. Cooperação voluntária – diversas ambigüidades.
-Faz uma comparação com uma agência de viagem onde temos “grupos” – conjunto de pessoas que se encontram pela primeira vez na vida no avião e que tem apenas um interesse material para fingir que viajam juntas. Algumas “equipes pedagógicas” são constituídas pelos mesmos motivos: compartilhar um crédito, um espaço, um professor de apoio ou um especialista, não passam de arranjo não tem nenhuma substância, fala-se de pseudo-equipe.
-Equipes pedagógicas que vão além dessa associação interesseira, trocam idéias, práticas, não impõem nada a seus membros, mas apresenta um isolamento total. Não agem juntas, falaria de equipe lato sensu. Se limitam a intercambiar pontos de vista
O grupo não passa de um ecossistema, um ambiente estimulante, que proporciona idéias, coragem, vontades, pistas concretas e ajuda, mas permanecem sozinhos diante de suas responsabilidades e tarefas concretas.
-Equipes Stricto-Sensu: Para além dos arranjos materiais ou das práticas de intercâmbio, são formadas de pessoas que agem juntas, colaboram com um mesmo trabalho, constituem um sistema de ação coletiva. Coordenam suas práticas/assumem responsabilidade por um grupo de alunos
Qual o papel da ação pedagógica assumida em equipe
- as equipes pedagógicas que coordenam as práticas, conservando seus alunos;
Os alunos tem a ver com um ator coletivo/vários professores intervêm na mesma classe e parecem compartilhar os mesmos alunos, não exercem uma responsabilidade comum/cd um “dispõe” em sua vez do grupo-classe segunda uma grade horária/não tem muito a negociar com os colegas, exceto nos casos grave/ ou no momento do conselho de classe/cd professor é responsável apenas pelas condutas e pelas aprendizagens que ocorreram durante “suas” horas de aula. Um professor de classe ou professor principal pode garantir uma harmonia através de conversas bilaterais com os demais. Essa organização de trabalho não favorece a partilha de responsabilidades.
Cada equipe pedagógica navega entre dois excessos:
-Excesso de “laisser-faire”, remete intercâmbios sem uma coordenação real das práticas pedagógicas, troca de idéias, e cada um conserva sua liberdade.
-Excesso de interferência nas práticas individuais, provoca conflitos, tenta coordenar tudo e fazer com que todos sejam coerentes com as opções comuns, passa a exercer um pressão que pode tornar-se insuportável.
-Autoridade do grupo sobre seus membros é um fenômeno ainda mais complexo quando a equipe reúne iguais, quando não tem chefe para encarnar o poder. Neste caso ficam divididos em duas lógicas:
1) identificar com o grupo e aderir às decisões comuns ou
2) seguir suas próprias preferências e deixar de lado a solidariedade
- Além da coordenação das práticas; não se trata apenas de conversar, de tomar decisões, de elaborar material comum, situações didáticas, instrumentos de avaliação, regras de vida e de funcionamento, trata-se de gerenciar coletivamente um grupo de alunos. Ninguém se sente pelo aluno dos outros professores, ninguém deseja que os outros intervenham na relação pedagógica que mantém com seus alunos.
- Uma verdadeira gestão coletiva impõe uma certa coordenação entre as práticas ; quando a equipe existe publicamente como um ator coletivo, os alunos e seus pais sentem-se no direito de exigir contas, que os membros entrem em acordo/quando estas injunções são dirigidas a professores que não faz parte de nenhuma equipe, eles podem alegar que estão respeitando suas incumbências/uma equipe pedagógica pode cair n armadilha de sua própria vontade de acabar com o “cada um por si”.
- As equipes não concerne somente de professores/seus diretores também devem se envolver/o trabalho em equipe modifica o conjunto e as relações de poder, em sentidos contraditórios, ou seja, de ganhar e a perder/aqueles querem que nada mudem tem muito a perder, os que querem revitalizar a escola tem muito a ganhar. Mas não é simples?
Para os administradores autênticos, especialmente ao nível de estabelecimento de ensino, as equipes pedagógicas são fontes de problemas, nem sempre são estimuladas pela autoridade escolar ou por outros professores porque:
O que tem a perder:
-Complicam a gestão pessoal, escolha mútuas dos professores;
-interferem nos processos burocráticos/atribuição de classes/elaboração de horários;
-Criam separações no corpo docente: os que trabalham em equipe e os individualista;
- colocam o estabelecimento em perigo quando adotam inovações audaciosas;
-constituem um “contrapoder”
-contestam regras comuns, ameaçam a ordem tradicional,
-podem criar uma ”escola na escola”

O que tem a ganhar: Ao contrário, as equipes pedagógicas são fontes de renovação e dinamismo porque:
-animam o debate do estabelecimento de ensino, introduzem novas idéias, contestam as tradições;
- os professores se sentem a vontade de romper com seu individualismo;
-permitem uma organização flexível das classes e dos ensinamentos;
-influenciam o clima geral com mais otimismo e menos passividade frente ao sistema;
-podem resolver conflitos;
-impelem a direção de avançar;
-facilitam a desconcentração ou descentralização dos poderes de gestão.

A capacidade de resolução de problemas dos estabelecimentos de ensino é um desafio. O trabalho em equipe pedagógica transforma-se em uma necessidade/é integrado em uma noção mais abrangente, a de cultura de cooperação, que não se resume à colaboração, mas envolve gestão participativa, autoridade negociada e a auto-avaliação dos estabelecimentos de ensino.
Nas últimas décadas o trabalho em equipe foi tratado com uma gestão de pessoas. Alguns sistemas educativos impediram ou complicaram o nascimento e a vida das equipes pedagógicas, enquanto outros com a melhor das intenções, instituíram equipes no papel, sem compreender que uma equipe eficaz depende de um contrato livremente negociado entre os membros. O que acontece hoje é um enfrentamento entre duas tendências:
1ª)Sentido da profissionalização do ofício de professor: práticas orientadas para objetivos gerais e uma ética, mais que para diretrizes/exige competência de alto nível/resolução de problemas/capacidade de cooperação (dividir forças,para que o todos seja mais forte que a soma das partes).
2ª)Proletarização da profissão de professor: presa a estratégias, didáticas e meio de ensino e avaliação pensado por especialista, pronto para uso.
Por que um professor se recusaria em trabalhar em equipe? Podem traduzir um individualismo/medo do confronto/ da partilha, pode mobilizar mecanismos de defesa pouco racionais/profissionais.
-Os professores que experimentam o trabalho em equipe sabem que a cooperação é uma luta: contra si mesmo, contra suas ambivalências.
- Os que abandonam dizem que não querem investir tanto para resultado tão aleatórios; otimismo frágil, que é facilmente “minado”; retorno de “cada um por si”; a capacidade de escuta não são virtudes pessoais, mas poderiam ser competências profissionais;
- Os professores mesmo atraídos pelo trabalho em equipe retiram-se tão facilmente diante de qualquer ameaça é porque não possuem os savoir-faire/sente ameaçados quando toca em suas zonas de incertezas;
-Aqueles que superam, descobrem que um grupo só se torna eficaz quando aprendem a funcionar juntos e mobilizam savoir-faire (animação, memória coletiva, momentos de regulação, mediação de conflitos em casos graves.
O que mais falta, nos estabelecimentos de ensino, quanto nos locais de formação, é uma prática contínua de explicitação de legitimação das dificuldades. É uma irresponsabilidade convidar os professores a trabalhar em equipe sem dizer ao mesmo tempo que será difícil, que existem métodos e aquisições e que não precisarão reinventar a roda.
-Ensinar é uma profissão difícil, não é estável, cada nova turma é uma incógnita, cada aluno com dificuldade é um enigma, cada ano letivo é uma aventura. O professor enfrenta a cada ano crianças e adolescentes que não gostam da escola.
-Para evitar dificuldades o professor tem necessidade de ser um pouco manipulador, de seduzir, de provocar riso, de ser cúmplice, de ser temido ou adorado, ou tudo ao mesmo tempo. Esses não ditos preservam a auto-imagem do professor. Quando os membros não são responsáveis por um grupo de aluno, a proteção acaba quando os professores deparam-se conjuntamente com os mesmos alunos. Ex. distribuir bombons para obter silêncio... Os truques denigre os outro/credibilidade é suspeita... O que funciona em uma relação singular deve ser reinventado em uma escala mais ampla.

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